Gravidez e Transtorno Bipolar: O que toda psicóloga precisa saber para oferecer um cuidado ético e atento
- Luzia Maia
- 27 de out. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: há 5 dias
Introdução
O transtorno afetivo bipolar (TAB) atinge mais de 140 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS. Ainda assim, quando falamos de gravidez e transtorno bipolar, o silêncio — inclusive clínico — ainda é grande.
Na minha prática com gestantes diagnosticadas com TAB, vejo como o sofrimento psíquico é atravessado não só pela oscilação do humor, mas também pelo medo, pela culpa e pelo julgamento social.
Neste post, quero te mostrar o que você, psicóloga perinatal, precisa saber para acompanhar essas mulheres com ética, escuta e responsabilidade clínica.

O que é o transtorno bipolar?
O TAB é caracterizado por episódios de mania ou hipomania, alternados com episódios de depressão profunda. Ele é dividido em dois tipos:
Tipo I: episódios maníacos intensos e frequentes, com ou sem depressão
Tipo II: episódios depressivos + hipomania
O diagnóstico costuma acontecer na vida adulta, a partir dos 20 anos. E aqui um dado importante: o transtorno bipolar é um dos mais hereditários que conhecemos, aumentando até 10 vezes a chance de recorrência em filhos de pessoas com o diagnóstico.
Gravidez com TAB: o que está em jogo?
Quando uma mulher com TAB engravida — ou deseja engravidar — surgem muitos medos legítimos:
Medo da recaída (com ou sem medicação)
Medo de passar “isso” para o bebê
Medo de ser julgada por desejar maternar
Medo de não ser capaz de cuidar
E esses medos não são infundados. Sabemos que o risco de recaída no puerpério é real:
23% de chance com tratamento
66% de chance sem tratamento (Sit et al., 2006)
Por isso, a interrupção medicamentosa nunca deve ser feita sem supervisão psiquiátrica. O risco de uma crise é, muitas vezes, maior do que os riscos controlados de seguir em tratamento.
Mulheres com TAB ainda enfrentam preconceito — inclusive dentro da saúde
É comum ouvirem frases como:
“Mas por que você quis engravidar sabendo que tem bipolaridade?”
“Você não acha que pode fazer mal para o seu filho?”
“Tem certeza de que vai dar conta?”
Esses julgamentos não são apenas cruéis — são violentos.A clínica perinatal precisa ser um espaço onde a mulher possa existir sem precisar se justificar. E o papel da psicóloga é sustentar esse espaço com ética e escuta ativa.
Diagnóstico e início no periparto: sim, acontece
Nem sempre o TAB é diagnosticado antes da gravidez. Muitas mulheres são diagnosticadas durante a gestação ou no puerpério, quando ocorre o que chamamos de início periparto.
Isso acontece porque esse período é altamente sensível para o surgimento de transtornos psiquiátricos, especialmente em mulheres com vulnerabilidade pré-existente ou histórico familiar.
⚠️ O diagnóstico deve ser feito por profissional habilitado: psicólogo clínico ou psiquiatra, com escuta qualificada e acompanhamento contínuo.
Como atuar como psicóloga perinatal nesses casos?
Se você está diante de uma gestante ou puérpera com diagnóstico (ou suspeita) de transtorno bipolar, aqui vão alguns pilares da atuação clínica:
Escuta não patologizante, mas atenta aos sinais clínicos
Articulação com psiquiatra e outros profissionais da rede
Psicoeducação da gestante e da rede de apoio sobre o transtorno
Acompanhamento do vínculo mãe-bebê
Atenção redobrada no puerpério e nos primeiros 3 meses
Além disso, o cuidado começa no pré-natal psicológico — ou até antes, no desejo de gestar. O trabalho de prevenção e construção de rede é fundamental.
Conclusão
Cuidar de uma mulher com transtorno bipolar que está gestando não é só possível — é necessário. E o papel da psicóloga perinatal é oferecer um espaço onde ela possa ser escutada com profundidade, sem precisar esconder suas dúvidas, seus medos ou sua história.
Se você quer atuar com segurança diante desses casos, eu posso te ajudar nesse caminho.
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