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Depressão Perinatal: o que é, como identificar e quando buscar ajuda

Atualizado: há 3 dias

A depressão perinatal é uma das principais causas de sofrimento psíquico entre mulheres que estão grávidas ou que acabaram de dar à luz. No meu livro Enfrentando a Ansiedade na Gestação, eu falo sobre como muitas dessas vivências são atravessadas por sintomas invisíveis, silenciados — e um dos mais graves é a depressão. Apesar de ser altamente prevalente, ela ainda é subdiagnosticada — e, pior, subtratada. Isso acontece, muitas vezes, porque os sintomas são confundidos com o “natural” da maternidade, ou porque a mulher sente vergonha de admitir que não está feliz durante uma fase que a sociedade espera que seja só alegria.


Se você é profissional da saúde perinatal ou acompanha mulheres nesse período, este texto vai te ajudar a compreender com profundidade o que é a depressão perinatal, quais sinais merecem atenção clínica e como podemos agir de forma ética e eficaz.


Mãe grávida sentada no sofa angustiada,  representando a depressão perinatal

O que é depressão perinatal?

Depressão perinatal é um termo que abrange episódios depressivos que ocorrem durante a gestação e até um ano após o parto. Ao contrário do que muitos imaginam, ela não se restringe ao chamado "pós-parto". E mais: nem sempre se manifesta como tristeza intensa. Muitas mulheres relatam apatia, irritabilidade, culpa, insônia, pensamentos intrusivos e até sensação de desconexão com o bebê.

“É como se eu estivesse presente, mas não estivesse vivendo. Acordava todo dia com a sensação de que algo muito ruim ia acontecer.” — relato de paciente em acompanhamento.

Principais sintomas da depressão perinatal


  • Humor deprimido na maior parte dos dias

  • Irritabilidade ou labilidade emocional

  • Cansaço excessivo, mesmo após repouso

  • Falta de prazer em atividades antes prazerosas

  • Pensamentos de inadequação materna

  • Perda de apetite ou compulsão alimentar

  • Alterações de sono (insônia ou hipersonia)

  • Dificuldade de concentração

  • Pensamentos sobre morte (própria ou do bebê)


Importante: sintomas podem variar em intensidade e nem sempre a mulher verbaliza diretamente sua dor. A escuta qualificada é essencial.


O impacto da depressão perinatal


A depressão perinatal não afeta apenas a mulher. Os efeitos podem se estender para o bebê, para a amamentação, para o vínculo familiar e até para o desenvolvimento infantil. Não à toa, a saúde mental materna já é reconhecida como prioridade em políticas públicas de saúde, sendo abordada em diretrizes como as do Ministério da Saúde – Saúde Mental Materna. Os efeitos podem se estender para:

  • O bebê, por meio de prejuízos no vínculo e na responsividade materna;

  • A amamentação, que pode ser comprometida pela apatia ou insegurança;

  • O parceiro ou rede de apoio, que muitas vezes não entende o que está acontecendo;

  • O desenvolvimento infantil, principalmente quando há negligência emocional prolongada.



Verdade difícil: A maternidade não protege contra depressão — ela pode, inclusive, ser o gatilho


Existe um mito persistente de que o instinto materno e o amor pelo bebê seriam suficientes para evitar ou curar qualquer sofrimento. Isso é falso. A maternidade é uma experiência ambivalente, repleta de desafios. Se a mulher já tinha fatores de risco (como histórico de transtornos mentais, falta de apoio ou experiências traumáticas), a chance de desenvolver um quadro depressivo aumenta.


Negar isso em nome de uma romantização da maternidade só silencia ainda mais as mulheres que precisam de ajuda.





Como identificar e conduzir na prática clínica


1. Acolher sem julgamento

Evite frases como “mas você tem um bebê lindo, devia estar feliz”. O sofrimento perinatal é real, mesmo quando tudo “parece perfeito”.


2. Utilizar instrumentos clínicos com critério

Escalas como PHQ-9 podem auxiliar no rastreio, mas o diagnóstico é clínico.


3. Investigar o contexto

Histórico de depressão, traumas, violência obstétrica, perdas gestacionais, lutos não elaborados, suporte social deficiente, entre outros fatores, devem ser considerados.


4. Encaminhar quando necessário

Quadros moderados a graves exigem atuação interdisciplinar. Encaminhar para psiquiatria quando houver risco aumentado é cuidado, não falha.


Guia rápido para atuação clínica

O que observar?

Como agir?

Choro frequente sem motivo aparente

Validar o sentimento e investigar possíveis gatilhos

Sentimentos de inadequação materna

Trabalhar narrativas e expectativas irreais

Falta de prazer ou conexão com o bebê

Explorar a construção do vínculo, sem pressão

Pensamentos intrusivos ou autorreferentes

Avaliar risco e cogitar encaminhamento conjunto

Apatia ou lentificação

Criar microações de reconexão com o cotidiano

Escutar é intervir


Reconhecer a depressão perinatal é uma questão de saúde pública e de compromisso com uma maternidade mais real e menos solitária. Quando escutamos com atenção e agimos com responsabilidade, abrimos espaço para que essas mulheres possam pedir ajuda — e receber.


Se você é profissional da saúde e quer aprofundar sua atuação nos casos de depressão perinatal, conheça meus cursos:



Ambos são baseado em evidências científicas e voltados para profissionais que querem trabalhar com técnica e sensibilidade na saúde mental perinatal.

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